segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Porquê que os poderes estabelecidos querem desenvolver a Cidadania? Naturalmente, já reparou que são os vitais poderes do pelotão do mercado, político e económico, que nos solicitam a exercer a nossa cidadania. Acho que, criaram uma curiosidade, um pouco opaca, na repentina preocupação pela cidadania, nos interrogando o que é que eles esperam de nós, concretamente ? Se olharmos, a estrutura ideológica e política, constatamos que, a extrema-direita traduz um dos perigos mais activos na percepção dos poderes estabelecidos. Olhando, para as esferas mais elevadas, as perspicazes dos dirigentes fizeram-lhes entender que as contradições, os impasses e as consequências sociais intoleráveis do capitalismo têm que ser levadas em consideração no diagnóstico de soluções alternativas, perante a realidade revolta, progressista. Surge, também uma ameaça da extrema-esquerda no seio do capitalismo e do neo-liberalismo. De facto, a estratégia de sobrevivência adoptada pelos poderes económico, político e mediático, bem como sustentada pelas ideologias da democracia do mercado mundializado, consistem em: a) evitar a via autoritária, em virtude de haver o risco de retorno. b) adoptar a via suave, empenhando-se em valorizar, aos olhos de todos, a via central que nada mais é a via que recusa os extremos e que se mantém no poder sem nada ou quase nada a alterar. Há que convencer, que cada cidadão tem que se assumir, tanto na vertente cívica, como naquela da consciencialização da responsabilidade. A dita, « cidadania responsável ». Mas, se olharmos para o jogo formal da democracia, identifica-se que os núcleos dirigentes estão estruturados a conduzir, na medida do possível, toda a incerteza mesmo pesando-a no período do seu poder. Surge, então a luz da vontade política de neutralizar a cidadania. Ora, consciencializo-me que, somente aprendendo a questionar e analisar os problemas políticos reais é que podemos construir a verdadeira educação cívica. Infelizmente, pouco se vê, esta consciencialização no seio do pensamento crítico do cidadão, por causa da implementação da neutralidade que exige que para se efectuar a formação política é proibido de fazer política. Ora, se a Escola é neutra é pela vontade da neutralização, é para cultivar o « inconsciente da classe » (expressão de Bourdieu), para destruir toda a tomada de consciência de posição social particular. Por conseguinte, entre a neutralização, que é cada vez menos eficaz e o doutrinamento, que temem tanto as famílias sabendo que jamais será eficaz, surge a oportunidade para se criar uma verdadeira formação libertadora que permitirá a todo o jovem ser cidadão democrata integralmente. Existe uma receita de cidadania ? A escola tem o dever de transmitir aos jovens os Saberes e as Competências que dão força para entender o mundo e participar na sua melhoria pela via da justiça. Então, quais são os ingredientes, pertencentes a esta cidadania? Uma sólida base de Saberes que constituem um mapa do mundo onde vivem: história, geografia, economia, ciências sociais, filosofia, matemáticas, literatura, artes, tecnologias e outras disciplinas. Por exemplo, como tomar posição face ao crescimento da xenofobia e do racismo se não se conhece a história da imigração, os saltos económicos desta e outros factores? Há que compreender os mecanismos políticos, económicos e sociais que originam as injustiças, as guerras e os acidentes ecológicos. Traduz uma visão racional e científica do mundo que deve ser privilegiada. Por conseguinte é imprescindível entender as principais ideologias, sobretudo do capitalismo pois é nele que vivemos para o melhor e para o pior. Competências enquadra-se no exercício da cidadania : · compreender a escrita tais como textos, estatísticas e gráficos, · as produções audiovisuais e artísticos, · a oral através do saber escutar · saber organizar-se colectivamente O acesso às informações de qualidade, pois sabe-se que não existe democracia real sem informação. Por conseguinte há que premunir e imunizar os jovens contra a ilusão que o que se lê, nos midias é digno de confiança. Há que ter uma crítica no âmbito de informação dominante e de ideologia que ela veicula. Torna-se imprescindível encontrar fontes independentes de informação e criar um espírito crítico e auto-crítico. A democracia exige uma Saber Estar e Ser moralmente coerente para com os valores de solidariedade, cooperação, fraternidade, igualdade, justiça social, distribuição do trabalho e da riqueza, racionalidade, rigor e honestidade intelectual. Nada melhor que construir estes valores a partir do infantário através da rica experiência acumulada em nova pedagogia. Hoje, torna-se imprescindível, defendermos a democracia, escrevendo artigos, questionarmos, incitar as pessoas a reflectir seriamente antes de pagar os impostos e manifestar sustentadamente com respostas alternativas para nos tornarmos cidadão. A cidadania enquadra-se em qualquer cidadão que queira contribuir com as suas capacidades e que aceite receber formação, assim como os movimentos de resistência dão importância à formação dos seus militantes. Por conseguinte, a escola traduz um desafio democraticamente crucial. A democracia não se mede pela relação binária Sim/Não, mas sim por uma reflexão qualitativa.

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